O frio cortava o rosto de Liam metro após metro, enquanto as pernas latejavam intensamente por causa do enorme esforço para manter o comboio a vista. Seus músculos clamavam por repouso, mas não havia tempo a perder. Os veículos seguiam com lentidão por conta da neve na estrada. Mesmo assim, Liam precisava dobrar seus esforços para alcançá-los e ter a chance de salvar seu amigo. Isso se ele ainda estivesse vivo, pois não havia mais dúvidas sobre a identidade daquelas pessoas de preto. O instinto era o que guiava as ações de Liam, que corria como um predador na neve sem deixar que sua presa o percebesse. Por quase um dia inteiro, o caçador perseguiu o comboio de sanguessugas.
Ao amanhecer, Liam agradeceu a sua sorte por ter um dia com o céu limpo de nuvem, diferente dos dias nublados que ele e Dimitri enfrentaram durante a exploração da nova área. Ao menos essa seria sua vantagem ao confrontar os vampiros.
Mesmo sendo um exímio caçador, Liam encarava um desafio que poderia matar tanto ele quanto seu amigo, aquela perseguição estava esgotando o seu fôlego. Era um milagre que ainda não tivesse desmaiado de exaustão. Em sua mente uma voz pedia para ele desistir da caçada, mesmo com a determinação inabalável, aquela missão seria suicídio.
“Eles já devem ter se alimentado do Dimi… O melhor seria avisar os outros caçadores na região e rastrear o comboio depois… Devem ter mais de 7 sanguessugas naqueles malditos carros, mesmo que eu os alcançasse, não teria como enfrentá-los sozinho”. Sua razão dizia para desistir, no entanto, era o instinto que Liam escutava naquele momento.
Durante o período de escuridão, quando o sol esteve encoberto pela fumaça das explosões nucleares, os caçadores foram obrigados a serem mais fortes do que eram no mundo moderno. A sobrevivência durante as caçadas nos tempos de escuridão eram um teste de resistência monstruoso. Muitos se deixaram levar pelo desespero e morriam, enquanto outros desenvolveram um instinto primitivo para suportar. Graças a esse impulso animalesco foi que Liam conseguiu manter a força de vontade para sobreviver naquela época de barbárie e era isso que lhe dava forças para um resgate sem muitas esperanças de sucesso.
Horas de perseguição depois, o comboio começou a se direcionar para uma cidade próxima. O amanhecer, de alguma forma influenciou a trajetória dos veículos. Os vampiros estavam procurando por um refúgio, ao menos era o que Liam acreditava. Essa era a vantagem que o caçador estava esperando, agora ele poderia marcar o território para informar os outros companheiros sobre a sua localização.
Liam seguiu o comboio até um galpão com muros altos, ele se posicionou em um barranco distante e usou a lente do rifle para enxergar. Os carros param em frente a um portão enferrujado, dois vampiros saíram para abri-lo. Com poucas nuvens para bloquear o sol, aqueles sanguessugas pareciam sofrer muito com a luz, mesmo com aquelas vestimentas que cobriam o corpo inteiro.
O caçador aproveitou a chance e fez um disparo que atravessou os óculos de esqui e a cabeça de um dos vampiros. A pequena exposição da pele daquela criatura com a luz solar fez com que chamas grassassem da pele do monstro para as roupas, deixando-o mais exposto ao sol. Sem tempo para responderem ao tiro ou mesmo para salvar o pobre coitado, outros três vampiros saíram dos carros e terminaram de abrir o portão. Rapidamente eles adentram o refúgio com os veículos e se fecharam lá. Liam achava que com isso ganharia mais tempo para Dimi, caso ele ainda estivesse vivo. Os vampiros pensariam duas vezes antes de matar um refém sem saber quantos caçadores estavam por perto.
Liam aproveitou aquele momento para fazer o perímetro da cidade, marcar o local para outros caçadores e procurar uma rota alternativa para se aproximar do galpão. Enquanto marcava o local, em uma zona rural, algo naquela cidade incomodava Liam, um cheiro de morte pairava sobre aquele lugar, um cheiro que ele não sentia há muito tempo, mas que no momento não conseguia distinguir. A falta da adrenalina que teve após a perseguição prejudicou seus sentidos seriamente.
Quando terminou o reconhecimento, Liam verificou sua munição e seus suprimentos, estava na hora de descansar um pouco antes de tomar qualquer atitude. O caçador tinha esperanças de que seu companheiro ainda estava vivo.
Mais uma vez aquele cheiro de morte começou a empestear o ar. Um barulho na neve, seguido de murmúrios fez com que Liam arregalasse os olhos de pavor para o que se aproximava. Ele engoliu seco, pois havia se recordado daquele cheiro fétido que era muito comum nas caçadas na época de barbárie. “Essas criaturas não podiam ter aparecido em um momento melhor” praguejou Liam.
Atrás dele, podridão e carniça se aproximavam com lamentos mórbidos. Um batalhão de criaturas contaminadas com morte, criaturas que um dia foram seres humanos, mas que agora caminhavam com o único desejo. Se alimentarem dos vivos.
Continua…
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